sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Sobre solidão - Quase na atmosfera

A solidão me pega para conversar de vez em quando. Estou cansada. Às vezes, desejo companhia. Às vezes, quero esta solidão. Por que somos tão insatisfeitos? Já tive meus amantes e sinto falta do contato físico mais forte. Já até fiz sexo com outras raças que não a nossa, querido. Ainda assim, fica um grande vazio... as estrelas são companhias tão interessantes mesmo sendo uma massa de poeira, algo que vai explodir. A nave já está fazendo o trajeto de volta e as pessoas já estão aparecendo no rádio, conectando... O doutor já veio fazer as medições necessárias e está preocupado com minha situação. Ele observou minhas olheiras e meu cansaço aparente e visível, mas, não é de estar aqui. É a tensão de encontrar pessoas... de encontrar... de ver... ah, tem gente lá que eu não queria ver. Medo de enfrentar, mas, sou humana, né? Ao menos, uma parte de mim ainda é!
Estava refletindo outro dia sobre como criamos barreiras intransponíveis porque devemos manter o que é nosso para nós: nossos pensamentos, nossos desejos, nossas dores e, ainda assim, buscamos alguém que nos preencha, que não nos falte dentro de nós mesmos. Como pode ser isso? Estamos cada vez mais solitários neste universo de átomos e estrelas e sóis... e a única coisa que poderíamos fazer era compartilhar nossas experiências. O que aconteceu com a nossa capacidade de dizer o que sentimos? É tudo meu! Como se isso fosse resolver qualquer coisa!
Eu também equaciono tudo em minha mente, as razões de tudo, conto estrelas e planetas, afastando a possibilidade de todo e qualquer encontro real. Eu sei que tenho medo de uma das coisas mais íntimas entre dois seres: amar e sou desesperadamente louca para isso... Quero amar e ser amada, conhecer o companheirismo verdadeiro do dia-a-dia, mas, de alguma forma, fantasio demais sobre isso. Então, uso as mais diversas e estapafúrdias desculpas para deixar os outros de fora. Eu sou louca? Estou com saudade de um ser e a proximidade do encontro já me arrepia de um tanto porque sei que não terei controle sobre mim quando nossos olhos se encontrarem e sei também que fui rejeitada... o que fazer? As estrelas silenciam no escuro universo, os planetas apenas giram em seu monótono monológo interno! E meu ser se consome em dúvidas atrozes sobre o futuro.
De vez em quando, nessa solidão profunda, eu me sinto viva e completa como se tudo isso fosse parte de mim, como se a beleza que encaro pela janela da nave estivesse contida em cada pequena célula do meu ser e que nada poderia ser mais perfeito. Nesses instantes, breves momentos de unicidade ao cosmo, eu desejo ser apenas luz que passa pela nave, por mim e por todos nós!
Estou cansada agora. Vou dormir até o momento da próxima ronda.
Pax, amigo!
Dandara

Pessoas

Lidar com as pessoas é uma das coisas mais impossiveis que existe em todo o universo conhecido. Já fui a tantos lugares, com tantas raças diferentes, com tantos trejeitos, falas, idiomas, formas e cores e somente existe uma constância, pelo menos nesta galáxia, que os seres vivos são dificeis de lidar. Por mais que tentemos compreender isto ou aquilo que eles fazem a nós, ainda assim não é o bastante. É uma batalha árdua e contínua e, até onde eu estou me mantendo, não tem fim. Prefiro eu batalhar Stroggs a lidar, face-a-face, com uma pessoa tão misteriosa quanto um buraco negro.

Pelos Profetas, porque todo mundo tem que dificultar com tão pouco em jogo? Porque preferem por tudo a perder, a se sentar e escutar o que estamos sentindo e queremos compartilhar? Porque tanto egoísmo num momento breve do universo? Pois é isto que somos... breves e, num piscar de olhos cósmico, não existimos mais, além de poeira e atomos. Eu me pergunto, porque tanta mesquinharia por parte de todos? Porque não simplesmente amar livre e consciosos de que só precisamos estar vivos? Tão simples e tão dificil de conseguir.

Eu me acabo por isso. Fico tentando entender as estrelas, a física quântica que resulta na poesia estelar que é o cosmos e sequer consigo entender o sub-produto das reações estelares espalhadas pela galáxia. A resposta está aqui, a frente de nós dois, mas ainda está completamente fechada em si por um mistério tão sagrado quanto a vida. A prosa, o verso, o verbo, a arte, a pintura, o consenso... tudo está aqui... e nunca acharemos.. pelo que parece.

Dessanir Ankj Cottum

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Carta 2 Planeta Suriana

Sei bem do que diz. Pior esses que nunca se concretizam, que morrem sem nunca terem nascido ou que nasceram na berlinda, culposos e retardados de si mesmos! Queria nunca ter vivido tanta coisa assim. Agora, tenho só a companhia das estrelas solitárias, que não se encostam, que são como eu, pedaços de poeira cósmica.
Às vezes, sinto que perdi tudo e que tudo me contém em desespero único. Prefiro estar só aqui em cima, cuidada pelo oxigênio da máquina. Vez ou outra, um comando vocal insurge pela nave, um contato próximo e distante. Às vezes, também sinto falta de abraços e cuidados. Mas, escolhi esta vida solitária aqui em cima. Quando vou ao chão, as pessoas me olham e não as deixo aproximarem-se, meu caro!
Uma estrela morreu logo ali no canto da galáxia. Minha hora de voltar para o chão se aproxima e sinto já o leve tremor da volta e o tempo de permanência na atmosfera quase me enlouquece. O que faz quando seus pés tocam uma vez mais a terra? Queria saber lidar com as pessoas que me permeiam o caminho, mas, eu me sinto tão débil e idiota perante elas que palavra nenhuma sai. Apenas converso com as estrelas e os meteoros, que logo partem para sua distinta trajetória.
Acho que, em breve, nos veremos em solo!

Dandara

Carta resposta

Acredite ou não, as coisas sempre são atribuladas por esse lado de cá, por mais distantes que tentamos ficar de nossas vidas, mais próximas, no entanto, acabamos ficando.

Eu penso, todos os dias, sobre cada ação que eu venho tomando nos últimos tempos e cada vez que eu vislumbro um momento diferente, os meus sentimentos se tornam ainda cada vez mais alheios daquilo que eu pensei.

Por obra do acaso e do ocaso eu sinto o mesmo que você sobre os amores que se passaram e, pior, aqueles que nunca se concretizaram. Pena, sinto esvair a cada momento tudo aquilo que eu nunca tive... você já se sentiu igual sentimento? Uma perda que você nunca teve?

E as estrelas... tão calmas... e tão sorrateiras...

domingo, 7 de setembro de 2008

Carta 1 Planeta Suriana

Esses dias eu pensei em um amor que se foi. Eu tive vários. Entendo o mundo pelos meus olhos e vivi com tanta força tudo isso, só que vivi pela metade. É tão ruim viver aqui e lá, sem a possibilidade real de viver tudo possível e o possível foi tão pouco que foi como aquele dia perfeito que se esvai nas ampulhetas de Cronos. Dá vontade de um pouco mais de vida e bem menos dessa dor preemente que consome sem que se possa sequer gritar um grito alto, forte e dorido. Sei que meus problemas parecem banais diante de alguns problemas alheios. Ando perturbada com a idéia de pessoas que gostam de estar sempre bem, desses seres de contos de fadas. Será que eles existem ou são meras expressões míticas? Ando descrente do mundo nestes dias nefastos. Ando desejando que uma bomba se exploda e acabe com tudo e mais um pouco. Em um outro momento, arrependo-me disso, deveria ser cada um na sua.
Só que essa passionalidade acaba com a minha existência. Tenho vergonha de ser assim perturbada e, às vezes, desagrado demais quem quero próximo. Quem me entende nesse mundo de Deus? Aliás, nesse universo alucinado! As estrelas passam por mim, tantas milhões de estrelas, tantas coisas que já vivi aqui e acolá e nenhuma substitui essas saudades estranhas de coisas que passaram, de frases que perduraram e ecoam na alma como no mito de Eco, que reverbera infinitamente. Acho que as piores pessoas são as que se fazem de mais legais e boazinhas, aquelas que agem porque parecer ser o correto e não porque ela é ela! Às vezes, eu quero ser uma explosão no centro do espaço para acabar com tudo! Uma hora eu quero ser Afrodite em beleza plena, outra quero me entregar ao mundo dos espíritos, ser alguém sábio o suficiente para organizar os parafusos soltos com o coração de cavalos selvagens. Você sabe fazer isso? Agora, você voltou para a minha vida de modo tão gostoso! Como estão as estrelas do lado daí?
Aqui, elas são calmas. Estou dando a décima ronda para verificar mais uma vez se há algum ladrão de satélites... satélites para essa gente que me abafa se divertir! Também quero me divertir, só que sem ter que ouvir essa ladainha exasperante de homens e mulheres que querem relacionamentos, querem se dar bem, querem viver e que também querem o que eu quero. Cansei também de ter inveja de quem se diverte! Como está sua ronda no seu planeta?

Até mais,
Dandara