Pisei em terra ou o que parece terra. O médico ainda não me liberou para encontrar as estrelas novamente, os meus adoráveis pontos de luz, minhas nebulosas, meus universos perfeitos! O que há de errado com você, meu querido amigo? O que há de errado comigo? - eu me pergunto todos os dias da minha vida! Os antropólogos falam que o homem é um ser social mas tudo que desejo é minha solidão no espaço. Prefiro conversar com as estrelas, com a imensidão escura do nada do que ficar aqui cercada de outros e ser só. Não sei se me entende. Que bela descoberta vocês fizeram em Theta Archemis. Percebi que eu mudei ou tudo mudou? Não sinto mais como antes. Ao encarar os olhos pardos dele, eu não senti a velha angústia de me jogar nos braços daquele homem que pensei que poderia amar sempre... foi como se um mágico passasse a mão sobre meu coração e me livrasse desse mal constante de achar que preciso amar para sempre, que preciso achar alguém. No fundo, e isso é bastante irônico, eu quero isso que chega a ser absurdo dentro de mim e, ao mesmo tempo, eu fico só, afasto qualquer alma que ouse se aproximar de mim. Acho que a vida me fez assim. Eu sou uma sobrevivente dos campos Amarelos. Lembra-se deles, meu amigo? Um planeta que brilhava tão belo... e os homens os destruíram. Não sei como consegui chegar neste ponto da minha vida!
Aqueles dias estão no passado e estão presentes no meu hari. Às vezes, tenho a impressão de que sempre serei uma refugiada, indo de um lugar para o outro, sem raízes, sem história, sem pais... Quero dizer, eu tenho a minha história, que fez com que eu fosse eu, que eu me tornasse quem eu sou. Ando derrotada. Vou ao bar e tenho que tomar uma dose forte de algo para conseguir fazer Morfeu transgredir seu próprio mundo e chegar até a mim. Eu gostaria de ter a voz de Ak-la, que me contava histórias lindas e comoventes de seu povo. Ela foi assassinada em um ataque feito no campo. Ela me escondeu e eu sobrevivi. Seu sangue azul claro escorreu para meu corpo e ela havia falado para eu ficar quieta. Estou saudosista hoje! O relato que me escreve trouxe essas lembranças ou, talvez, seja estar perto de outros seres, sentindo esse movimento de solidão acompanhada. Esta noite, levei outro homem para meu quarto. Fizemos sexo. Aquele sexo sem sentido, aquele em que um homem me toca e, aparentemente, alguém toca a minha pele sem tocar a minha alma e é como se eu nem estivesse lá. Já sentiu isso? Essa vontade de compensar o seu hari? Eu queria preencher meu coração como as histórias de Ak-la com sua voz gentil, que me acolheu com seus braços estranhos e nossas raças eram inimigas, opostas e ela me amou... os da minha própria raça, espécie mataram Ak-la.
Já não tinham muitos da raça dela voando pelo universo. Imagino que estejam extintos neste momento. No momento em que lhe escrevo, recebi minha avaliação. Terei que ficar na base por mais três meses terrenos, arrumando naves e, segundo meu superior, evitar encrencas caso queira subir de novo no espaço. Terei coisas para fazer e o mundo é solitário, mais solitário do que em qualquer momento. Minha prisão é quando estou com outros seres humanos. Já se sentiu assim? Sabe como é isso? Da última vez, alguém disse que eu era uma traidora... Quem era esse povo antigo? Será que tem a ver com o povo de Ak-la? Essas palavras... ela dizia dragolar e hari. Sua língua era diferente da minha. Eu adormecia antes de ouvir o final da história. Tinha um herói que eu gostava: Capitão El-Kel, o grande desbravador da galáxia, o único que conseguiu atravessar o grande buraco negro e voltar vivo. Você acha possível para almas como a minha retornar de um buraco negro?
Eu sei de uma coisa a meu respeito: eu tenho medo dos outros homens, mais do que das outras espécies! Acho que eu fazia mais sentido quando estava entre as estrelas.
Quem sou eu agora?
Pax,
Dandara
sábado, 24 de outubro de 2009
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